quarta-feira, abril 21, 2010

LEITORES SEM PRINCÍPIOS


"TU NÃO TENS PRINCÍPIOS!"... e pronto! Foi assim que não chegámos a ir à "Opera" nesse dia...noite. A ópera foi cá fora em vários actos e esta foi provavelmente a pior coisa que já me chamaram.
Foi um insulto baixo e desmoralizador para quem se importa em ter princípios de vida e orientar-se segundo eles. Já me tinham chamado muita coisa ao longo da vida: nomes, gozações relacionadas com o aspecto físico elegante, mesmo com o nariz...mas esta foi a mais vil!
Bem, talvez não! Houve uma outra vez em que fui chamado de "leitor" eu e outro colega, curiosamente o mesmo que me acusou de não ter princípios, vejam bem. Mas nessa ocasião fomos chamados de leitores, e numa biblioteca, e pública. Que descaramento! Fomos apanhados de surpresa e para nós foi um motivo de insulto, como se pertencêssemos a uma sub-espécie: esses leitores. Essa doeu também.
E isto porque não gostamos de ser rotulados, categorizados, marcados por um qualquer critério, nem mesmo literário.

domingo, abril 04, 2010

AS MEIAS DE SEDA DA RAINHA DE INGLATERRA OU A RELIGIÃO DO CAPITALISMO OCIDENTAL

A primeira parte do título deste pensamento tem a ver com uma ficha de leitura ou "paper" ou como lhe queiram chamar, feito numa das cadeiras do último ano de curso e que tinha como moral o facto de querer ensinar a verdadeira doutrina do capitalismo que era: as meias de seda não eram feitas para a rainha comprar, mas sim para que todas as pessoas, incluindo as próprias operárias (deduzo que seriam mulheres a fazê-las), as pudessem comprar, pois a verdadeira essência do capitalismo, creio eu afincadamente, é produzir para consumir e ter lucro daí adveniente. No caso das meias de seda se fossem feitas apenas para o alcance da bolsa da rainha não trariam muito lucro pois na melhor das hipóteses, ela, rainha, compraria apenas para a família real, enquanto que, talhadas para a bolsa do público, do consumidor, da gentalha, traria muitos mais dividendos.
Esta frase enquadra a moral capitalista que faz a ponte para a segunda afirmação do título: a construção de uma religião capitalista numa sociedade apelidada de "civilização ocidental". Sim, existe uma religião e politeísta diga-se de passagem. O mandamento único é o consumo desenfreado; o livro sagrado era o livro de cheques que já não se usa muito, mas é uma boa analogia e os seus deuses foram habilmente desenhados e idealizados para competir com outras Divindades.
E isto tudo a propósito de uma homilia que ouvi do meu pároco há "macheia" de anos, quando era jovem e atendia ao serviço dominical, e que pela perspicácia do conteúdo nunca me saiu da cabeça^; nela, comparava os novos deuses criados pela sociedade consumista para rivalizar em tempo de festas cristãs com o que de verdadeiro se devia celebrar.


Então dizia o seguinte: no Natal celebra-se o nascimento de Cristo e o presépio algo já muito obscurecido pela figura mítica do Pai Natal. Este homem idoso, bem disposto e de bom coração, é criado a partir de uma lenda, mas que assume, para gaúdio capitalista, superpoderes, entre eles o de caber dentro de chaminés quando a sua cintura nem cabe dentro de um hula-hoop; distribuir presentes numa só noite a todas as crianças bem comportadas nesse ano, tudo isto em cima de um trenó puxado por 12 renas voadoras. Imbatível! Jesus Cristo recém-nascido numa manjedoura, em pleno estábulo e a Sagrada Família que teve ainda a sorte de receber 3Reis Magos, não conseguem competir com o "HoHoHo" do barbas e a sua barriga cheia de prendas. O capitalismo criou uma figura que lidera uma festa de consumo louco onde, sob o pretexto da reunião,fazem-se grandes festas e tomam-se as maiores pielas e ai de quem não oferecer nada...belo espírito pseudo-natalício.
A tradição transforma-se e o que é celebrado muda. Menos mal: os valores por detrás ainda são os mesmos.


E a Páscoa. Tudo isto vem mesmo é a propósito da Páscoa onde a morte e ressureição de Cristo vê surgir um rival: o coelhinho da páscoa. E não é muito mais fofo, andando a distribuir ovos de chocolate por todos? E ai de quem não oferecer ovinhos... Se bem que num país onde o cristianismo é uma segunda vida e mesmo às vezes primeira, nesta época ainda se celebra o genuíno e de várias formas. Mas ao mesmo tempo é preciso não descurar o consumo e os ovinhos senão...
Estas tradições surgiram e desenvolveram-se a par com o catolicismo e foram geradas mesmo no seu seio, só que foram habilmente utilizadas pelo capitalismo para engordar a sua máquina mundial e controlar a forma como se pratica a religião dominante, ou como, inconscientemente, se torna devoto e praticante de outra.
Felizes os que se conseguem movimentar nestes meandros e se mantêm fiéis aos seus princípios, esquivando-se a tudo isto e aproveitando apenas o que há de bom. Não é nada fácil e esses é que são os grandes santos dos nossos dias.