quinta-feira, dezembro 26, 2013

"Well, opinions are like assholes. Everybody has one." (Na Lista do Assassino [1988])

Esta sábia metáfora do inspector Harry Callahan no fundo quer dizer que todos nós temos o direito a opinar sobre algo (se bem que superficialmente no filme o que ele quer dizer é que a opinião do outro era igual a dejectos humanos). E isso até é verdade quando aquilo que dizemos e defendemos não é bem defendido e argumentado de forma lógica.
Também existe o direito de gostar e de apreciar algo apesar do mundo inteiro ser contra: daí o ditado "gostos não se discutem"... bem, isso também pode não ser bem assim pois há gostos muito discutíveis e a única forma de fazer valer a nossa opinião, ou gosto, é o mesmo: defendê-lo com uma boa argumentação.
Toda esta prosápia para dizer que tenho um fraquinho para gostar de certos filmes que são autenticamente massacrados, crucificados e salgados pela crítica e público em geral. Hoje vou falar de um deles e explicar porque, na minha opinião, as criticas são injustas e o filme é muito bom, excelente até, num determinado ponto de vista.

O filme é...

O Mensageiro (1997)
"The Postman" (original title)

O Mensageiro (1997) Poster
Na carreira de Costner como realizador este filme foi considerado a ovelha negra, tal como outros onde se destaca Waterworld. Há quem diga que os poderes instituídos da 7ª arte estavam à espera para destronar Kevin depois da sua mediática ascensão e sucesso. Aparentemente o mundo de Hollywood vive da projecção e depois destruição de indivíduos ligados ao ramo. Enquanto isso render dinheiro nas bilheteiras e nos media que se lixe a moral e os bons costumes. Deixando isso agora e falando puramente em termos de concepção artística, eis o que foi escrito de mais simpático sobre o Mensageiro:

 On Siskel & Ebert, Ebert and Gene Siskel gave the film "two thumbs down", with Siskel calling it "Dances with Myself"
 
Rotten Tomatoes, 3 out of 32 film critics gave the film a positive review,
ReelViews James Berardinelli "If you take The Postman at face value - that it's a straightforward, post- apocalyptic adventure tale, then it could seem like one of the worst movies of the year, if not of all time."


Ora bem, a verdade é que o Mensageiro é um grande filme, (isto sempre na minha perspectiva) mas não o é porque pertence a um determinado género (pós-apocalipse da 3ª guerra mundial) ou porque tem um grande elenco com grandes representações ou porque tem um grande realizador; eu gosto deste filme porque a forma não é o mais importante mas sim o seu conteúdo, que não é um western nem nada do género e quem discutir o filme nesta base ainda só viu a ponta do iceberg. O conteúdo neste caso é o que interessa. O cinema em geral enquanto forma de arte existe para quê? porque vemos um filme no cinema ou noutro sítio qualquer?... por um conjunto de razões que a 7ª arte sempre assumiu ela própria ser a razão ou razões da sua existência: sem ordem de importância o cinema serve para entreter... ensinar e educar, sendo esta última uma lição de civismo, de moralidade e em última instância, de humanidade.
O Mensageiro fala de alguém que apenas pretende sobreviver num mundo em crise onde existe injustiça e forças opressivas, mais nada. Ele quer passar o mais despercebido possível preocupando-se apenas com a vida que construiu para conseguir existir anonimamente. A partir de certa altura as acções que ele toma para continuar a passar despercebido empurram-no para uma posição de maior protagonismo, mas isso não foi algo planeado e muito menos desejado; muito pelo contrário: a certa altura quando ele se apercebe da dimensão que aquilo que ele inadvertidamente criou, tenta fugir. O mensageiro não é um herói: é um vagabundo que por vezes recorre ao embuste para sobreviver. Mas o mundo à sua volta sofre cada vez mais com a opressão e ele toma consciência que não pode continuar a fugir e que se calhar tem a capacidade de mudar alguma coisa e então toma nas suas mãos o comando da luta contra a opressão e acaba por vencer tornando-se no final num símbolo e num líder da mudança. Ele próprio diz ao inimigo que no início este parecia-lhe tão forte e inacessível mas que agora ele via-o como ele realmente era: um tirano.
O mensageiro perdeu o medo de se envolver em algo muito maior, saiu da preguiça da sua existência anónima, ganhou confiança para falar e para dizer aquilo que pensava aos outros e com isso mudou tudo à sua volta.


O Mensageiro ensina-nos que qualquer um de nós, eu, tu, por mais insignificantes que possamos ser e parecer nesta vida, temos a capacidade de mudar o mundo...
Caramba se isto não é uma mensagem tremenda!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Nunca li tamanha bosta!

PS - Os meus problemas de obstipação estão resolvidos.

Auadroy disse...

folgo em saber, aguentar este tempo todo à procura desta leitura específica para obrar é obra!